Fernando Rômbola - Desafio "Uma imagem, um conto"

 O Fernando Rômbola topou participar do desafio e fez um texto com base na imagem abaixo.


Sara, braba!


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"Sara acende um cigarro. Os óculos escuros ajudam a disfarçar o aspecto do cenário ao redor: morte, ruínas, caos.

Silêncio e solidão são as únicas coisas que restam no mundo todo. As pessoas enlouqueceram quando os seus sentidos foram contaminados pela Verdade Absoluta.

Não é algo que possa ser visto ou explicado. É como uma doença psíquica, autoimune, perpetuada pela morte. Sara sobreviveu porque a sua mente é parte máquina.

O seu pai também vive, perdido no labirinto de loucuras que ele construiu com fragmentos da Realidade.

Ela se senta no monte de entulhos para conferir a munição. Sara precisa acertar apenas um tiro na cabeça do seu pai para terminar com a demência.

Ela deveria tê-lo matado antes da extinção começar.

Sara dá mais um trago no cigarro, mas não sente nenhum prazer. Não há razão para ser feliz. Depois que matar o velho, esperará que a energia do seu corpo mecanizado termine. Não restará ninguém pra lamentar pelos mortos.

A história de como a humanidade chegou ao fim nunca será contada. Não há futuro quando o presente é devastado.

Termina de fumar e pendura o fuzil no ombro.

Ela olha mais uma vez o laboratório destruído. Lágrimas escorrem pelo seu rosto enquanto caminha, obstinada.

A Realidade deveria permanecer intacta. A ilusão era tão doce, perfeita, sensível. Fácil de ser manipulada.

Sara entra na edificação decadente. O mecanismo de prospecção subatômica continua funcionando, disseminando o desequilíbrio entre as forças elementares da natureza. O velho está lá, apaixonado pela insanidade. Ela nunca o viu tão feliz antes.

Um tiro de misericórdia é a diferença entre ser assassina ou suicida.

Agora ela entende que nunca existirá uma resposta certa, talvez não exista nem a errada."

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Ficou muito bom demais, Fernando!!! Obrigado! 

Comentários

  1. Sensacional. O razão e emoção, o conflito eterno, a inevitável necessidade, tudo isso numa incrível "disordi"

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